Talvez este não seja o melhor título para este post (possivelmente, vai induzir os leitores em erro), mas foi a tradução dada ao nome do filme Tokyo Monogatari, que tive oportunidade de ver graças à minha amiga Maria João, que mo emprestou, e que adorei.
A história passa-se durante o atribulado período do pós-guerra. O casal de idosos Shukichi e Tomi Hirayama viaja da sua aldeia rural, Onomichi, localizada no sudoeste do Japão, para Tóquio, para ir passar algum tempo com dois dos seus filhos. Como estes têm uma vida muito ocupada por causa do seu núcleo familiar e do trabalho, os velhotes acabam por não ser recebidos como esperavam. Noriko, viúva de um outro filho do casal, é a única que lhes proporciona um momento diferente: uma excursão turística para conhecerem a cidade, pela qual eles ficam visivelmente gratos.
Posteriormente, Koichi e Shige pagam aos seus pais uma estadia barata num spa termal em Atami. No entanto, o casal acaba por voltar porque não consegue descansar, dada a noite agitada vivida pelos jovens no hotel. Mais tarde, Shukichi e Tomi decidem regressar a Onomichi porque não querem ser um fardo e já está na altura de voltar. A velhota acaba por adoecer gravemente... mas a vida continua.
Como já tinha referido, gostei muito deste filme. Com um ritmo lento, sendo cada cena pertinente, é de uma profundidade e simplicidade imensas porque faz-nos pensar sobre os valores que, ainda hoje, governam a sociedade. Aquilo que, aparentemente, deveria ser a prioridade fica esquecido em prol de escolhas que, mais tarde, acabam por trazer o vazio e a insignificância à vida.
Chocou-me, particularmente, o facto de um dos personagens dizer que o afastamento dos pais a todos os níveis é algo natural, que faz parte da vida. Não concordo. Mesmo que as circunstâncias levem a uma distância física, porque é que tem de haver afastamento emocional? E será que é mesmo impossível, de vez em quando, quebrar a barreira da separação para nos encontrarmos com as pessoas?
Ver o Tokyo Monogatari foi, também, uma experiência diferente, pois não me lembro de ter visto antes um filme tão antigo e, por isso, a preto e branco. Data de 1953 e é da autoria de Yasujiro Ozu (1903-1963), considerado um dos mestres do cinema japonês e, para muitos, mesmo o maior.
Nota: O próximo post com este título vai ser mesmo sobre a minha viagem a Tóquio.